certas coisas permanecem guardadas. mas não escondidas: não há interior, tudo está gravado na minha pele.

certas coisas se tornam amuletos. fluindo magicamente, por trilho ou trilha, ambos parecem se tornar possíveis de maneira concomitante aos toques, as conjunções.

nenhuma certeza é necessária, ainda que todas pareçam dolorosamente plausíveis.

ser enquadrada como apaixonada me lembra as maquinações de um Estado Policial, pronta para cometer o pecado mais uma vez, deixo que minha carne circule, tentando demonstrar na prática o que as palavras revelaram por acidente. querem tomar banho comigo. querem ouvir algo de mim. querem que eu feche o circuito, e eu o faço através de torções.

o ato de criação só surge com o inesperado. o carinho, por outro lado, é perfeitamente deliberado, calculado em seus mínimos detalhes para emanar meu amor em sua expansividade. sou sempre diferente daquilo que é idêntico a mim, e luzes artificiais já não são menos que árvores coraladas de metal e vidro.

como se fazem as malas sem saber para onde está indo? em algum lugar devo achar a resposta. vou pegar um empréstimo, esperar que cobrem, oferecer meu espírito de garantia. anos depois, sei quais instantes continuarão comigo, pendurados em meus colares, me protegendo da angústia sem nome e da banal pequenez. inquebráveis como aquela garrafa, brilhando palidamente como a lua.