brega

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Eu contemplo o oceano.

Talvez por tempo demais, mas é impossível digerir tudo de uma vez. Chega um momento, em que eu finjo que eu entendi o que ele tá fazendo, falo que escutei o barulho que as ondas fazem quando quebram juntas.

Mas eu faço isso só pra poder seguir com o dia. O mar me esmaga, me faz sentir minúsculo e me provoca: "eu sou finito e inesgotável" - eu amo cada segundo. Desculpa por isso, mas é a mesma provocação que eu vejo nos olhos dela. Não nos que ela tá usando(na verdade, nem lembro como eles se parecem) - nos que me encaram todas as vezes em que fecho os meus. Os dela são castanhos, encolhem quando ela sorri de boca aberta.

Nunca vou saber o que eles querem me dizer.

Eu tô escutando as ondas agora, e não lembro da última vez que cruzei com o oceano. Queria ser abraçado de novo, voltar a ser nada. "A não-existência é uma existência muito particular", eu poderia achar meu contrário olhando no espelho, minha cabeça queima, e se um dia me interiorizei pra sentir que tava fora de mim, hoje parece um exercicio fútil, tão fútil quanto construir um castelo de areia pra me proteger das ondas. Se a água não me toca, eu não preciso pensar em quanto tá quente.

Caralho, como tá quente. Eu quero mergulhar. Eu quero a água me tocando. Não sei como aguentei ficar tanto tempo na areia.

Começa a chover.

Acho que eu deveria voltar pra casa.

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