Yes, the Leash is now a Chew Toy
2 min readMar 29, 2023

Como assim você não tem mais whatsapp? Onde estão aqueles links para episódios do choque de cultura? Eu preciso organizar meu google drive, a minha pulsão de morte. Morte. De alguma forma você combinou shows medíocres de stand-up com budismo tibetano. Jogou pokémon TCG comigo quando eu era criança. Eu um dia perguntei o que você faria quando crescesse. Você já tinha feito duas faculdades, agora eu estou fazendo a minha. Nessa busca, coleto referências de todo tipo, nenhuma maior que você.

Algo disso importa? Você parecia entender. Nossa conversa mais profunda foi sobre ecologia e neoliberalismo econômico, a mais intensa, sobre meu ateísmo radical e a crença na astrologia. Você me recomendava cursos sobre budismo. Eu neguei essa conexão. Como você foi capaz de inventar uma masculinidade de tão alta performance? Rock and Roll? Ouro Verde Hits? Talvez porque você tenha sido o homem mais parecido com a minha mãe que eu já conheci. Penso que esta é a masculinidade que me cabe. Não sei se você entenderia, mas sinto seu acolhimento sem nunca ter conseguido me "confessar" a você. "Luiz Gustavo Rock", um eu inventado por você, gravado na forma de disco, basta para uma biografia deste mim morto. Eu não gostei tanto assim de Alice in Chains. Mas amo Nirvana e Lauryn Hill.

Será que isso basta para garantir a nossa narrativa, terminada num corte tão seco? É uma forma de dominar essa angústia, dizer que sei o que você queria me mostrar. Que eu Entendi, perfeitamente. Essa perfeição quase me matou. Eu me salvei? Poeticamente, a psiquiatria me salvou? Não foi também violenta a forma que me reinseriram em um discurso socialmente compartilhado? Eu queria continuar vivendo sem nunca ter que me comprometer com a "realidade" novamente. Mas esta cisão escondia, novamente, uma angústia, uma obsessão em me sentir significativa, em retornar aos meus ápices.
E aquela vez que eu atuei como um alquimista? E aquela resenha escrita sobre um capítulo de Conceição Evaristo? O Limão de 17 anos entendia Hegel? E o N, essa figura que encarna minha euforia de gênero e o meu primeiro encontro com minha identidade ao jogar pokémon?

Não há como me reencontrar com o eu desses momentos. Meu delírio nada mais foi do que uma tentativa de fuga de uma ansiedade institucional, de refúgio nesse lugar familiar, uma desistência da aposta em viver em comunidade. Por isso na queda do delírio desejei ser internada em um hospital psiquiátrico, não podia mais retornar à vida social. Qual foi a solução? Bom, tentar. Me encontrarei com os meus ideais de perfeição no infinito? Espero que não, mas já é melhor do que precisar alcançá-los imediatamente, para ontem. Você tinha 30 anos quando se encontrou no budismo. Aos meus 30 anos, nada vai restar do Luiz que você conheceu. Além de você, é claro.

hentai é arte